domingo, 15 de abril de 2012




Carlinhos Cachoeira transferiu R$39 milhões através de empresas de fachada.

Segue a íntegra da reportagem publicada pelo Diário de Pernanbuco no dia 15/04/2012:

O bicheiro Carlinhos Cachoeira usou duas empresas de fachada — a Brava Construções e a Alberto & Pantoja — para movimentar R$ 39 milhões, entre 2010 e 2011. Os saques eram feitos pelo tesoureiro da quadrilha de Cachoeira, Giovane Pereira da Silva, e sempre um pouco abaixo de R$ 100 mil, que é o valor que obrigaria a comunicação ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Segundo os relatórios da Operação Monte Carlo, deflagrada pela Polícia Federal em 29 de fevereiro, o repasse do dinheiro foi feito pela Delta Construções.
“A empresa Delta Construções S/A transferiu dezenas de milhares de reais para empresas ‘de fachada’ (com sócios montados — inexistentes) controladas por Carlinhos Cachoeira e Giovane Pereira da Silva nos anos de 2010 e 2011, conforme demonstram os extratos bancários vinculados à Brava Construções e Alberto & Pantoja Construções”, diz trecho do relatório da PF.
O inquérito mostra que parte dos saques foi em período eleitoral: “113 saques em espécie entre 13/08/2010 e 18/04/2011”. Segundo os documentos, os supostos sócios da Brava e da Alberto & Pantoja são apenas “bonecos, montados para os fins da organização criminosa” e alguns desses sócios tiveram nomes modificados para criação de CPFs falsos.
O GLOBO mostrou que a Delta, empreiteira número um do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), recebeu, ano passado, R$ 884,4 milhões da União. O volume de recursos do governo federal para a Delta cresceu 1.417%, de 2003 até 2011 em valores corrigidos pelo IPCA. De janeiro até anteontem, a Delta recebeu R$ 156,8 milhões — dos quais R$ 156 milhões destinados às obras do PAC. Em 2007, 2009 e 2011, a Delta foi a principal empreiteira do PAC.
De acordo com nota enviada pela Delta, “há uma auditoria em curso no escritório regional da Delta Construção no Centro-Oeste destinada a levantar todo o relacionamento comercial e financeiro da unidade que era comandada pelo engenheiro Cláudio Abreu”.
Irmão de Demóstenes prometeu atender pedido do bicheiro
Gravações telefônicas da Polícia Federal indicam também que Cachoeira usava o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) para tentar influenciar decisões do Ministério Público de Goiás e da Procuradoria Geral do Estado. Diálogos entre os dois envolvem o procurador-geral de Justiça de Goiás, Benedito Torres Filho, irmão de Demóstenes; o presidente da Associação Goiana do Ministério Público (AGMP), Alencar José Vital; e o ex-procurador-geral do Estado Ronald Bicca. Os novos diálogos provocaram a demissão de Bicca, o terceiro do governo tucano de Goiás a deixar o cargo por suposta relação com a organização de Cachoeira.
Degravações da PF divulgadas no sábado pelo jornal “Correio Braziliense” mostram Cachoeira mandando Demóstenes falar com seu irmão, para que o MP agisse contra a transportadora Garbano, que estaria causando problemas ao bicheiro. No diálogo, de 16 de maio de 2011, Cachoeira diz a Demóstenes, segundo a degravação da PF: “Manda ele (sic) lá designar um promotor para entrar com uma ação contra isso aí, porque isso aí é parte do Ministério Público municipal, entendeu?”. No mesmo diálogo, Demóstenes havia dito que iria almoçar com o irmão Benedito.
Na noite do mesmo dia, segundo registro da PF, Demóstenes volta a falar com Cachoeira e diz que o irmão prometeu atender o pedido do bicheiro.
Em nota ao “Correio Braziliense”, a Procuradoria Geral de Justiça de Goiás diz que, nos casos citados nas conversas entre Demóstenes e Cachoeira, as decisões foram “opostas à pretensão manifestada” pelo bicheiro.
"O irmão dele acompanhou as investigações e as transferiu para a Vara Federal. Isso mostra sua completa isenção. Não houve pareceres que favorecessem ou prejudicassem ninguém", disse o advogado de Demóstenes, Antônio Carlos de Almeida Castro.
Em outra conversa, o bicheiro orienta Demóstenes a procurar o presidente da AGMP e tratar de um processo contra o presidente da Câmara Municipal de Anápolis, Amilton Batista, e da Faculdade Padrão de Medicina. Ao “Correio Braziliense”, Vital disse que o uso de seu nome foi “fanfarronice e irresponsabilidade de Demóstenes”. Já Bicca é citado quando Demóstenes e Cachoeira falam sobre o processo administrativo contra o delegado Edemundo Dias, tesoureiro do PSDB. Bicca disse ao GLOBO que o processo trata do retorno do delegado ao cargo após um período de afastamento e que seu parecer tem base legal.
"Estou muito tranquilo. Minhas decisões são embasadas. Não vai haver nada que demonstre influência do Cachoeira ou do senador Demóstenes. Nunca atendi a qualquer pedido dos dois. Mesmo porque eles jamais me fizeram qualquer pedido, lícito ou ilícito. Minhas relações com o senador Demóstenes sempre foram republicanas. Posso dizer que ele (Demóstenes) é meu amigo", disse Bicca.
O procurador afirmou que deixou o cargo para fazer mestrado já programado na Universidade de Coimbra, mas admitiu que está saindo neste momento para evitar o desgaste para ele e para o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).

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